22 de dezembro de 2007

sem título

Nesta época de festas abundam as saudações e os desejos de bom natal e próspero ano novo. É algo que se repete há imenso tempo e que no fundo não quer dizer rigorosamente nada.
Com o advento das mensagens por telemóvel o "bom natal" tão naturalmente dito no final de uma conversa ou a um funcionário de uma loja, ganhou novas e mais abrangentes dimensões, difundindo-se electromagneticamente pelo espaço permitindo que cada vez mais pessoas pensassem que do outro lado há alguém que ainda se lembra delas. Para essas pessoas dirijo-me agora com algo que elas provavelmente já sabem: a maioria das mensagens que recebes são iguais a muitas outras, letra por letra, só a recebeste não porque o emissor se lembrou de ti mas porque estavas, afortunadamente, na sua lista telefónica, a qual ele seleccionou massivamente para destinatário da dita mensagem.
Tudo que acontece nesta época não é exclusivo dela, como aliás nada é exclusivo em lado nenhum, contrariamente ao que se diz. Ora, sabendo que esta falta de intenção nas mensagens de natal abundam por esse ano fora, penso que a melhor atitude que se pode tomar relativamente às expressões de amizade e cumplicidade dos outros é a indiferença. Ninguém diz nada com intenção, ninguém diz o que realmente sente. O que fazem é pegarem em falas cliché e atirarem-nas ao ar em momentos oportunos, ficando eles bem vistos pela sua sensibilidade e bonomia e livrando-se de um momento embaraçoso em que viram as costas e mandam os outros à merda, porque é isso que realmente sentem. Desta forma, com abraços e beijinhos, com os irritantes "gosto de ti" e os "adoro-te" se constroem relações aparentemente fortes mas que têm alicerces na areia, relações de um vácuo sentimental alarmante.
É curioso como as palavras perdem o sentido, como são modeladas artificialmente pela mente calculista de pessoas que, para atingirem propósitos egoístas, atiram, quais guloseimas de baixa qualidade, sentimentalismos para o ar.

Vergonha em vós!

20 de dezembro de 2007

Anotação XIII

Nada é difícil excepto a adaptação.

19 de dezembro de 2007

Anotação XII

Por mais bela flor que lhe possam dar,
O Homem sabe sempre como a desvirtuar.

15 de dezembro de 2007

Merecia ser Rasurado nº 2

Cada vez menos sei se vejo verdade ou encenação,
A ida ao teatro já não custa bilhete!

Caminham pelo palco,
Ostensivos, perfumados,
Muitas vezes sem o que comer,
Outras vezes de barriga vazia. É esta a gente que temos.

Ninguém cuida da realidade,
Ela que sempre cuida de nós,
Pois mais tarde ou mais cedo,
Quer o queiramos ou não,
Lá está ela a denunciar a nossa casta e atirar os adereços ao chão.

Ninguém atenta no que é,
Só no que parece que é.

Toda a gente em correria em busca do mesmo:
Posição. Seja ela verdadeira ou falsa,
Que interessa que seja de areia?
O que os outros vêm, isso sim,
Nem que seja por um dia,
Um instante, um segundo,
Quero que me admirem em todo o meu esplendor,
E que interesso eu? Nada,
Só o que meu esplendor, o lanho que tenho na cara
E os trajes que a custo levo.

Não quero ouvir mais nada,
Para quê? Não quero saber,
Quero parecer, para isso respiro,
Para isso trabalho e a mais não olho,
Só à minha condição.

Quando só, quando sem ninguém me vejo,
Posso finalmente deixar de brilhar,
Tiro os trajes e não sou eu,
Sou outro, caído, tísico e lazarento,
Feio e nojento.
E depois? Nada existe se eles nunca o virem,
Só existe aquilo que eles tocam com os olhos,
Tudo o resto é falso, não interessa.

Assim se vive a vida, dando-lhes o que querem,
Nunca nos dando o que queremos,
Ou melhor, dando-nos aquilo que eles querem que queiramos.

Somos feios para sempre, repugnantes em cada acção,
Se por eles deixamos de ser
O que temos no coração.

8 de dezembro de 2007

Anotação XI

Os Homens. Ao tentarem ser diferentes tornam-se irremediavelmente todos iguais.

Desejo

É preferível não ter. Ter é desvirtuar. Mantém o desejo desejado, não o tornes realidade porque à medida que o realizas vais deixando de o desejar. Sonha apenas.

O ideal seria desejar o que já se tem!

Merecia ser Rasurado nº 1

Podia ser Abril, Fevereiro ou finais de Janeiro
Podia ser Verão, com os dias pintados de açafrão.
Desde que à noite se lembrassem de pintar o escuro com luzinhas,
De encher os locais públicos com azevinho e ramos de pinheiro
Eu saberia que era Natal.

Se se esquecessem de o fazer, não fazia mal.
Desde que enchessem os centros comerciais, ruas de comércio
Com compras inúteis e falsas demonstrações de caridade,
Eu também sentiria o Natal, embora não tivesse a certeza que dele se tratava.
Afinal as pessoas são assim quase todo o ano,
A única diferença é a quantidade.
No Natal é tudo em grande:
Amizade
Solidariedade
Fraternidade
Amor
E sobretudo Falsidade. Acho bem.

7 de dezembro de 2007

Anotação X

A energia que não temos é a que nos acode quando precisamos.

3 de dezembro de 2007

Números.

O um, como número, é insignificante, no entanto é enorme perante o zero.
O problema dos um é esquecerem-se da sua insignificância.
O problema dos zero é olharem para os números negativos e não se preocuparem em ver para além do um.

2 de dezembro de 2007

Anotação IX

Ninguém entra num relacionamento para fazer o outro feliz. Entram nos relacionamentos porque vêem neles um atalho para a felicidade. E não me venham com tretas sentimentalistas, não passa de conversa feita na qual ninguém acredita porque nunca ninguém pensou nela, limitou-se a repeti-la.


E mais: ninguém fica feliz com a felicidade dos outros. Ou a invejam ou lhes é indiferente.

23 de novembro de 2007

Brincadeiras Ridículas

É ridículo quem ridiculariza o ridículo. Ridículo é todo o homem que não quer parecer ridículo. Porque a humanidade é ridícula em toda a sua existência e lutar contra natureza tão enraizada é ridiculamente ridículo. Aquele que não atenta na sua condição ridícula é naturalmente natural e ridículo, o que lhe retira meio peso de ridícula presunção por não pensar que por pensar que não é, deixa de ser ridículo. Ser é ser ridículo.

22 de novembro de 2007

anotação VIII

O modo gratuito e inopinado com que as pessoas se dão não revela inocência, revela uma estupidez abominável.

21 de novembro de 2007

Outono e a Depressão Sazonal

Embora atrasado, lá chegou a correr, com vento frio e paisagens de um calor inefável. Eu perdi-me a olhar.

As chaminés derramam fumo,
Entregando-o cuidadosamente ao vento,
Esse caprichoso e pertinaz atrevido.

E ele esvoaça, poucos metros apenas,
Até desaparecer para um lugar que com olhos não é sentido.

É curioso como ele desaparece,
Nunca no mesmo sítio,
Nunca da mesma forma.

Parece que o Outono é uma chaminé
Uma chaminé diferente.

Quando o vento vem, ele liberta,
Copiosamente, o seu fumo sentimental,
E ele envolve-vos, invisivelmente,
Pois só os que enxergam a chaminé
Podem ver, momentaneamente, aquela massa espectral.

18 de novembro de 2007

Júpiter e as Luas

O Sol e o seu respectivo sistema de planetas têm, diz a Ciência, 4,8 milhões de anos. Para este texto gostava de convidar o leitor a considerar tudo isto falso e a deixar-se convencer pelo que vou dizendo.
No início dos tempos, Júpiter, um gigante planeta constituído por hélio e hidrogénio filho de Saturno e Cíbele, decide criar algo para povoar o espaço sideral que na altura vivia uma desolada solidão. Desta feita, cria 63 satélites que coloca a orbitar perenemente à sua volta com movimentos pseudo circulares.
Estas luas ganham então vida pelo movimento e como qualquer ser dotado dessa centelha, iniciam um sistema de competição no qual vence quem orbitar mais rapidamente o grande Júpiter. Óbvio que aquelas que se encontravam mais próximas do Grande Deus tinham vantagem sobre as que se encontravam mais distantes. Por isso, as mais distantes diziam-se azarentas, diziam que as luas mais próximas haviam sido beneficiadas por Júpiter. Outras, ainda das que se encontravam longe do grande planeta, diziam que a sua posição desfavorável para a competição era um castigo e consideravam Júpiter um déspota, todavia, adoravam-no e faziam tudo para o agradar na esperança que um dia Ele as pudesse mover para uma posição mais favorável.
Enquanto todo este tumulto de lamentos e súplicas se vivia na periferia do Grande Planeta, as luas mais próximas aclamavam e bradavam os céus, dizendo-se abençoadas e preferidas, uma vez que eram as mais rápidas, as mais brilhantes e as que sentiam mais intensamente o poder gravítico daquela Monstruosa Massa de Gás.
Naquela altura as luas viviam assim, ora dizendo-se azaradas e mal-amadas por Deus, ora achando que tudo o que tinham vinha de Deus. Devo então dizer que estavam todas totalmente erradas. Júpiter criou o sistema de luas suficientemente independente para ter que intervir e ajustar alguma coisa. A sua existência, enquanto deus, limita-se a uma plácida observação da Criação. Enquanto observa, espera que alguma lua sucumba à sua força gravítica e se junte a ele.
Ridículos são aqueles que acreditam que "lamber as botas" a Júpiter os vai salvar depois de terem feito tanta batota na corrida da vida. Júpiter não quer saber, aliás, se quisesse, deixaria de ser Júpiter e passava a ser Terra!

15 de novembro de 2007

anotação VII

É curioso o modo como as pessoas lêem as críticas que lhes fazem: nunca são elas, são sempre os outros; e pior: não se limitam a ler a crítica e a pensar que são os outros os malandros, lêem-na, excluem-se dela e num último esforço de ousadia e descaramento criticam ainda mais os outros.

13 de novembro de 2007

Atitudes

Quem sou eu para falar disto? Ninguém! Percebo tão pouco disto como um padeiro percebe de canalizações, mas hoje estava a escrever e achei que seria interessante coloca-lo aqui.


"Para sociabilizarmos temos que nos mostrar prontos a apoiar os outros, temos que parecer o ombro amigo, temos até que escutar, aturar os outros; nesses momentos podemos não sentir nada a não ser uma grande maçada, mas o produto final, ou seja, a acção, vai ter uma importância crucial no modo como evoluímos socialmente.

Não critico quem tem estas atitudes, critico quem as tem por fora e não as tem por dentro. A atitude é a conjunção do pensado e sentido com o efectuado. Hoje libertaram-se um conjunto de atitudes que foram pré-programadas nas pessoas: estas não são realmente atitudes, são partículas soltas da atitude que se auto denunciam como tal: não passam da realização de um acto – não têm sentimento ou pensamento (podem ter pensamento, mas um pensamento egoísta de conquista sentimental no objecto em questão) que as anteceda, não há construção cognitiva que leve à execução na totalidade, há apenas a reacção reflexa de que se tem de dar apoio, que se tem de ouvir ou que se tem de aconselhar, nunca se sabendo ao certo o que se faz, sabe-se apenas que se faz alguma coisa e que essa coisa ajuda-los-á a garantirem gente à sua volta."

12 de novembro de 2007

Poesia II

Adeus de Eugénio de Andrade


Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.

11 de novembro de 2007

Velhos perdidos,
Vertidos de preto,
Esquecidos no bafio dos locais de culto.
São todos ignorados
Aos grupos nas bermas da estrada.

Na estrada o desfile continua:
Quem tem o melhor carro,
Quem tem o melhor namorado
Ou a mais bela companheira.
O mundo é isto, infelizmente tão pouco!

É fedorenta tanta perversidade,
Tanta falta de bondade e consciência.
A vida é mais do que eles a fazem,
A vida é mais olhar do que mostrar:
Contudo, hoje só se mostra, não se olha

E os velhos continuam perdidos,
Impregnados do bafio das sacristias,
À sombra na berma da estrada
A olhar, miseráveis, os que passam
E usam a vida só para mostrar
Nunca parando para os olhar.

Ser velho e ser criança são dois estados de grande impotência: no entanto ser criança tem vantagens sobre a velhice. É giro segurar no colo coisas fofas: faz parte da toillet...

10 de novembro de 2007

Tu e eu, Natureza

Os lençóis envolvem-nos,
Cobrem-nos,
Dão abrigo à nossa relação

Lençóis de uma brancura transparente
E mesmo assim totalmente opacos

Enroscas-te em mim,
Mordes-me de manso,
Cicias-me no ouvido a brisa do Verão

Percorres-me o corpo com o calor do Sol,
Libertas o perfume da Primavera
Dos teus cabelos hipnotizantes

Eu vejo-me excitado,
Enlevado,
Fora de mim

Sinto a alma em erecção,
Mais uma vez me tocas,
E em palavras é a minha ejaculação!

8 de novembro de 2007

anotação VI

Todos somos maus, melhor, todos somos um monte de esterco: cada um de nós é a mais hedionda peça de porcaria que a superfície da Terra já teve o desprazer de ver. No entanto há quem se aproveite, há trigo no meio do joio. Há quem tenha vergonha da sua sórdida condição, há quem a conheça e odeie: essas são o trigo, são aquelas que travam duras batalhas contra si mesmas, contra a sua tendência para o egoísmo e para a inveja. Essas merecem respeito: tentar ser bom num mundo mau é de uma lucidez transcendental.

4 de novembro de 2007

Trechos

Ultimamente não me tem apetecido escrever aqui. Não sei porquê. Por isso decidi deixar aqui dois trechos da minha autoria, coisas que tinha para aqui escritas e que acho que estão aceitáveis: não têm muitos erros ortográficos nem de sintaxe portanto devem servir.

10 Outubro 2007
"As pessoas não pensam, têm pudor de pensar. Mas o pior é o facto de quererem que os outros também sejam pudicos para com o pensamento e o facto de escarnecerem daqueles que pensam, fazendo-os crer que viver acriticamente é a melhor maneira de viver. Malditos sejam!"

11 Outubro 2007
"As pessoas continuam indiferentes à sua degradação. Ninguém quer saber do mundo nem dos outros, nem mesmo de si. A única coisa que lhes interessa é o que têm e o que podem mostrar que têm. O resto é perda de tempo!
Loucos! Espero que acabem todos mal!"

Depois disto provavelmente estás a pensar que sou um presunçoso: "Ah, tá aí armado em bom, como quem vem aqui fazer favores." Mas não. Não deixei os textos para fazer favores nem para me armar. Deixei os textos porque hoje, além de não me apetecer escrever sobre os outros, estou-lhes com raiva e nojo, por isso procurei textos em que essa raiva estivesse pintada. E é precisamente por atitudes como essas, por juízos irreflectidos e apressados que eu fico chateado. Pensem o que quiserem, mas não atirem publicamente injúrias sem antes as terem devidamente fundamentado. Mania!

1 de novembro de 2007

Fiéis? E que fiéis!

Chamem-me exagerado. Eu aceito humildemente porque provavelmente é que eu sou, mas tenho razões para agir assim.
Perfume e pétalas para todos, quer sejam flores quer sejam pessoas, o que interessa é que seja tudo caro e que patenteie o máximo de fidelidade e de devoção. É assim que gosto de ver as pessoas, apinhadas, nos cemitérios! Um dia em que só se ouviam ciciar orações fervorosas, em que toda a gente vestia de saudade e pesar transforma-se, quase que por magia (e que magia!) em mais um evento social onde se criam novos boatos e onde a ordem de trabalho é falar de tudo menos dos que, de olhos fechados e a federem, repousam no silêncio telúrico.
Gosto de pensar que, em vernáculo, todos eles não passam de exibicionistas!

30 de outubro de 2007

anotação V

Paixão e Ódio: aparentemente tão diferentes que por pouco não são iguais!

29 de outubro de 2007

sem título

E o Homem estremeceu quando lhe disseram que nunca poderia ser feliz.
O suicídio conheceu números nunca antes vistos, milhares terminavam voluntariamente com a sua vida todos os dias: uns porque diziam que não valia a pena viver outros porque nunca chegaram a viver e aproveitavam para assumir a sua condição. No meio destes todos, poucos permaneceram, uns eram doentes outros eram velhos outros eram desterrados outros infelizes por natureza.

Este hedonismo actual é pernicioso. Temos que saber viver infelizes porque a verdadeira felicidade é, invariavelmente, infelicidade; porque a felicidade é inalcançável, não passa de uma miragem num deserto de infelicidade e sofrimento.

27 de outubro de 2007

Pela mão de Prometeu ou Uma Certeza Ígnea

De tudo o que faço, queria fazê-lo como o fogo.
Queria ter a certeza que ele tem quando queima,
Sem hesitações, sem medos, sem receios.

Lançar-me cauterizante ao caminho
Fazê-lo colhendo tudo à minha passagem,
E atingir o objectivo com o rubor do orgulho

Eu queria ser como o fogo
Ser espontâneo e indómito, ser convicto e ser seguro.
Eu queria ser como o Fogo,
E daquilo que faço, estar igneamente certo!

26 de outubro de 2007

Anotoção IV

Quem tem uma vida votada ao trabalho, tem o intervalo para se divertir.
Quem dedica a vida ao divertimento... o que faz no intervalo?

23 de outubro de 2007

Hoje, dia sem sol

Hoje o tempo parou. Só o relógio marcou inexoravelmente o tempo. Mas o tempo não passa só porque os ponteiros se mexem. O tempo tem vontade própria que transcende os ponteiros e os mecanismos do relógio. E por isso digo que hoje o tempo parou. Hoje ficou melancolicamente deitado nas nuvens vespertinas, como que cansado, como que espantado a olhar para nós. Continuamos a nossa vida, mesmo com ele parado, mesmo com ele a dar-nos um momento de descanso. Hoje pareceu-me tudo sem sentido; tudo se movia como peixes que nadam sem mar. O tempo não estava lá...
Foi esquisito, mas hoje, dia sem sol, o tempo parou!

21 de outubro de 2007

Poesia

Manhã por David Mourão-Ferreira

A nossa noite de ontem à tarde
foi a manhã por que esperávamos

20 de outubro de 2007

Cada coisa no seu lugar

Ridículos. Dignos de total escárnio. Sim. Vocês. Sempre à procura de amor, sempre atrás de companhia, desesperadamente em busca de paixão. Qual é o vosso problema com a solidão?
Qual é o problema que o mundo tem hoje em viver sozinho? Parece que a solidão morde porque toda a gente foge dela a sete ou oito pés. E depois fazem coisas dignas de dó, puro e total dó. Vocês, sempre atrás de alguém que preencha o vosso espaço, a forçarem algo que muitas vezes não deve acontecer. Mas o pior de tudo isto, de toda esta falta de discernimento é que em vez de pensarem com a cabeça, pensam com o coração.
E o coração serve apenas para bombear sangue para todo o corpo, nada mais!

19 de outubro de 2007

Anotação III

Abundam demonstrações de riqueza!
Miseráveis!... os mais pobres são eles!

12 de outubro de 2007

anotação II

O corpo já é perfeito; para quê querer aperfeiçoa-lo mais? Aperfeiço-a o teu carácter, que isso é a única coisa imperfeita e causadora de imperfeições neste mundo!

Anotação

A felicidade deixa-nos tão vulneráveis.

10 de outubro de 2007

Invidia

Quando olhamos para os outros e os vemos a triunfar, a primeira coisa que fazemos é esta: amaldiçoar a vida porque tem sido injusta connosco; e a segunda é esta: invejar o bem sucedido.
Penso que fazemos isto pela mesma razão que nos leva a preferir um elevador a umas escadas: é a opção mais simples. Sim, porque é extremamente difícil não se sentir nada relativamente a alguma coisa, todos sentimos (embora alguns não o exteriorizem) e sendo assim, a inveja é o sentimento mais cómodo que podemos agarrar para fazermos o nosso papel de seres com sentimentos.

Somos invejosos por malandrice!

9 de outubro de 2007

Hormonas

A testosterona torna os machos tão previsíveis...

Se eles soubessem, envergonhavam-se de cederem tantas vezes a ela!

Accendere discordiam

O optimismo sistemático irrita-me. É intoleravelmente pouco racional!

8 de outubro de 2007

Comum

Basta olhar duas ou três vezes para o magote de pessoas que nos rodeiam: os jovens, quanto mais homens e mulheres querem parecer, menos parecem. Mas continuam a querer parecer. E é isso que os torna jovens.

Não será pois a juventude uma tentativa de imitar a idade adulta?

6 de outubro de 2007

Lamento

Calmos são os olhares que deito à humanidade e exasperada é a impressão com que fico. A vulgaridade está a tomar conta de tudo e ao que parece, toda a gente a recebe de braços abertos, sem a mínima vontade de a combater. É vergonhosa esta complacência para com a mediocridade. Que se tomem atitudes, que se lute sozinho, mas que nunca se deixe que a corrente indolente da estupidez, da banalidade e da parvoíce nos tome.

Porque o problema não é a perfeição ser um ideal inalcançável, o problema é não haver quem tenha ideais!

1 de outubro de 2007

Curioso

Não que eu seja um especialista em politica internacional, porque não sou nem o pretendo, mas hoje li uma coisa que achei curiosa. Foi aprovado em parlamento iraniano que a CIA e o Exército Americano passariam a ser consideradas organizações terroristas, numa resposta à medida americana que atribui a mesma designação aos Guardas Revolucionários do Irão.
Os EUA têm-se destacado nos últimos anos pelo combate ao terrorismo, agora eu pergunto, como é que eles vão responder a isto? Será que se vão atacar a eles mesmos ou vão alegar que para eles a máxima "o fogo combate-se com o fogo" esteve sempre na base de todas as suas estratégias?

Acredito seriamente que o que escrevi seja completamente descabido, havendo com certeza muitos factos por detrás disto, desconhecidos por mim, que testemunham a favor da minha estupidez e insipiência política, mas adiante. Se por acaso estiver desse lado alguém que se tenha ofendido com tamanha parvoíce, apresento desde já as minhas desculpas acompanhadas por um conselho: não voltes cá, vais-te sentir muitas vezes assim.

Hoje

Hoje começou o programa Cantando e Dançando Por um Casamento de Sonho. É engraçado verem-se coisas destas na televisão. Quando se pensa que a TVI, ou melhor, as estações privadas de televisão, não podem fazer nada mais deplorante, quando se pensa que já bateram no fundo do poço da vulgaridade e da estupidez, eis que nos brindam com mais uma "original" produção!

29 de setembro de 2007

Rectidão

Ninguém sabe o quanto me custa cair na vulgaridade de fazer um post só para derramar palavras de outrem.


Poema em Linha Recta de Álvaro de Campos

Nunca conhecí quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasito,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cómico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe —todos eles príncipes— na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não uni pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ô príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que hà gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e erróneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos —mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

22 de agosto de 2007

Defeitos

Um dos meus inúmeros problemas reside no facto de eu ser instantâneo. As coisas aparecem com a mesma rapidez com que desaparecem na minha cabeça. Há coisas às quais não dou a menor importância e há outras coisas que acho que têm potencial. Quando encontro estas últimas, na maior parte das vezes e quando dignas de partilha, exponho-as aqui. O mais recente excesso de velocidade na minha cabeça foi uma clarificação do conceito que hoje em dia o senso comum tem de “defeito humano”.

Por definição, um defeito é algo que, comparado com um modelo (o mais próximo da perfeição quanto possível), apresenta diferenças. Talvez seja uma definição um tanto ao quanto redutora e simplista, mas cabe ao leitor pensar nisso (e a mim também numa fase posterior). Ora, tento em conta que socialmente costumamos distinguir as características das pessoas entre virtudes e defeitos, surgiu-me algo que achei curioso. Vejamos, é comum considerarmos geralmente o egoísmo, a falta de escrúpulos e a indiferença perante a possibilidade de matar alguém (p.e.) como defeitos. Mas, posso garantir que estes presumíveis defeitos podem dar origem, independentemente da intenção que os precede, a boas acções, a acções que promovam o bem-estar de terceiros. Imaginemos três indivíduos, cada um deles com cada um dos defeitos que referi anteriormente; consideremos também que cada um deles tinha esse defeito isoladamente, por outras palavras, cada um deles teria apenas um dos que referi, por exemplo, um indivíduo egoísta não poderia deixar de ter escrúpulos. Postas estas condições, consideremos as seguintes possibilidades:

1 - o egoísta encontra-se sentado num banco de jardim, calmamente, a desfrutar de uma sandes. Entretanto, aproxima-se dele um jovem que lhe pede encarecidamente algo que comer. Como tem noção da necessidade por que passa o jovem ele dá-lhe a sua sandes. Este acto foi movido pelo seu egoísmo: como não queria chegar a casa e sentir-se mal por não ter ajudado quem precisava, ele preferiu dar a sandes, e suportar a partilha, do que não dar e suportar o sentido de culpa. Porque o egoísta não tem necessariamente de ser desprovido de sentimentos, pode ser alguém que gosta de ter um lugar só seu, um conjunto de bens os quais quer só para si. (para clarificar esta ideia seria precisa uma longa dissertação acerca do egoísmo, coisa que não vou fazer, não só por não conseguir, mas também porque mesmo que tentasse tornar-se-ia longa e enfadonha).

2 - o homem sem escrúpulos é polícia. A sua divisão encontra-se ocupada com um perigoso grupo ligado à máfia. Ele, como não tem escrúpulos, oferece-se para tentar uma infiltração com o objectivo recolher informações que ajudem a desmantelar toda a rede de malfeitores. A sua falta de escrúpulos, embora muitas vezes usada em situações menos lícitas, é nesta caso preponderante para que tenha sucesso na sua missão e consiga salvar muitas vidas que estejam à mercê da mão impiedosa da máfia.


3 - o homem que não tem problemas em matar vive num mundo com dois países. Um país onde há liberdade e um país onde não há. O primeiro quer libertar o segundo da opressão e para isso precisa de um homem capaz de suprimir o ditador que mantém refém o segundo país. O nosso homem é destacado e deste modo salva milhares de pessoas de uma vida pautada pelo eminente medo de serem mortas pelo déspota não tolerante.


Embora rebuscados e cobertos de suposições mirabolantes, estes exemplos procuram demonstrar que os defeitos podem dar origem a boas atitudes, ou melhor, a acções que promovam o bem-estar de terceiros. É claro que não se tratam apenas de defeitos no conjunto das características humanas que permitiram tal acção, mas a questão é que houve uma boa acção, houve algo que beneficiou outras pessoas.
É incontestável que todos temos virtudes e defeitos, mas muitas vezes os nossos defeitos, quando acoplados com alguma virtude ou algum interesse que tenhamos, geram boas acções. A minha intenção não é discutir até que ponto é mais importante o resultado do que a intenção, isso é uma discussão que me perturba porque eu mesmo a tenho comigo, a minha intenção é mostrar que, tendo em conta o que é um defeito, está errado dizermos que o ser humano tem defeitos (pelo menos os de carácter) porque estes podem dar origem a boas acções, acções que, quando comparadas com o modelo de perfeição que temos, são totalmente idênticas. Acho portanto que talvez fosse melhor, não só como atenuante para aqueles com um carácter auto destrutivo, passarmos a dividir as características humanas entre coisas melhores e coisas menos boas, porque, e isto sem exemplos porque seriam bem mais esquisitos e ininteligíveis, mesmo as chamadas virtudes, dão origem a más acções.


E é nesta onda de pacifismo e tolerância pela merda que o Homem é que termino. Talvez isto não seja mais do que uma tentativa desesperada de ver a Humanidade e eu mesmo com outros olhos, olhos mais optimistas e menos acusatórios, mas não interessa. Foi, como disse, um excesso de velocidade na minha mente e como achei que tinha potencial, escrevi.

30 de julho de 2007

Ultraje

Acho sincera piada a todo o mediatismo que agora envolve os Simpsons, a sério que sim. A mim, que sou fã, já me enjoa. Foi no decorrer desta divulgação em grande escala que me surgiu uma estória, que passo a contar entre bocejos e "esfregadelas" de olhos, porque a hora não é nada própria (2:12). Vou, cobardemente, culpar essa mesma hora por qualquer erro, incoerência ou estupidez no texto que se segue.

Desde que ouviu falar pela primeira vez dos Simpsons, Carlos ficou interessadíssimo. Viu. As expectativas foram superadas, achou imensa piada à família amarela que fazia com que os americanos gostassem de se rir de si mesmos. A partir desse dia, ainda os desenhos eram primitivos, procurou nunca perder um episódio, sedento de novas razão para rir e para pensar. Ora um dia começa toda esta promoção exaustiva do filme. Reportagens para a frente, entrevistas para trás, merchandising para os lados... De um momento para o outro toda a gente é fã dos Simpsons sem nunca ter visto o rabo gordo e amarelo do Homer. Um dia, Carlos ficou a saber que a sua escola iria participar numa reportagem em que se procurava demonstrar o impacto que a Família de Springfield tem nos jovens. Carlos ficou entusiasmado, inteirou-se imediatamente de tudo: como ia funcionar, o que se tinha que fazer para participar. O trabalho do aluno eleito era simplesmente responder a perguntas feitas por um jornalista depois de ter exposto em linhas concisas mas claras, a razão pela qual gostava dos Simpsons. Carlos, como é óbvio, participou e ficou apurado para a final, a qual consistia num teste geral sobre os Simpsons. O teste pareceu-lhe bastante elementar, no entanto, havia duas perguntas completamente fora do contexto: eram sobre os títulos em BD dos Simpsons. Ele já tinha ouvido falar, mas como era medíocre em inglês e não conhecia edições em português, Carlos nunca tinha lido nada disso. Por isso, deixou essas duas por fazer, não querendo estragar a sua óptima pontuação, com duas respostas dadas à sorte. Do outro lado da sala, estava Mário, o sujeito mais popular da escola que, desde que os Simpsons se tornaram moda, vestia "à simpson": sempre com uma t-shirt do Homer a apregoar ao consumo de cerveja e a uma vida em frente da “interessantemente escravizante” televisão. Nunca tinha prestado atenção à quando o tempo de antena era de Springfield, nem tampouco se interessava por animação, a questão é que ele queria aparecer na televisão e para isso estudou como nunca para este teste, estudo que, devido a uma mãe preocupada e cheia de papel que o fez aprender inglês, incluiu a leitura das BD's dos Simpsons. Mário vai representar a escola, Carlos fica a ver a sua oportunidade de demonstrar o seu amor pelos Simpsons a ser roubada por alguém que só deseja protagonismo e que só quer demonstrar o grande amor que tem à sua própria popularidade.

Embora rebuscada e altamente duvidosa, esta estória tenta na sua humilde riducularidade ser uma metáfora para o que acontece hoje em dia com os famosos, as causas humanitárias e as pessoas que realmente se dedicam e fazem alguma coisa pelos mais desfavorecidos. De facto, eu estou farto de ouvir falar em Mários, de os ver em capas de revistas e na televisão a falarem do quão importante é ajudarmos os mais pobres, estou farto da publicidade frenética e memorizada que eles fazem; estou farto de ver as pessoas que trabalham pelos outros serem relegadas enquanto as que dão a cara pela causa são louvadas e admiradas; estou farto de ver que se esquecem daqueles que realmente defendem a causa, que lutam por ela com o pouco que têm; estou farto dos famosos humanitários que tão depressa abraçam uma causa como a atiram para o caixote das coisas que os ajudaram a aumentar a sua popularidade. É triste, é revoltante. É um ultraje!

São 2:39. O sono continua a apertar-me a cabeça pelo que acredito que as coisas ali em cima (o texto) não estejam como eu gostava, mas tinha de ser agora senão, a preguiça que o sol emana misturada com o calor faria com que eu me esquecesse e nunca mais escrevesse aqui.

E assim vivemos...

28 de junho de 2007

Damn Love



E assim vivemos...

20 de junho de 2007

Coisas que te fazem rir

Ontem ou anteontem vi o Curto Circuito. E quem pensa que o vou criticar que se desiluda porque decididamente não o vou fazer! O que aconteceu foi que o tema era o mesmo do título: "Coisas que te fazem rir" e houve um espertalhão que enviou para lá uma SMS, que passou em rodapé, que dizia que o que o fazia rir era o Governo e o Alvim. O Alvim percebe-se, ele é bem engraçado, um pouco apalhaçado às vezes, mas muito engraçado, agora, o Governo?! Esta referência ao Governo como "fonte" de piada reportou-me para os lamentáveis comentários que muita gente, a maioria, faz à forma como o executivo trabalha. De facto, e avisem-me se eu estiver errado, as pessoas só sabem reclamar, dizer que o Sócrates é este e aquele, que é um palhaço e que é outras coisas mais embaraçantes; passam a vida a acusar o governo de esbanjar e de explorar o "Zé Povinho", até fizeram aquela cena deplorável nas comemorações do 10 de Junho. Mas o importante é saber o porquê destas críticas tão acutilantes à governação.
Numa primeira abordagem, podemos pensar na crise que o país atravessa, no decrescente poder de compra dos cidadãos, nos avultados cortes de pessoal na função pública, no excesso de burocracia dos serviços, nas deficiências desses mesmos serviços, etc, etc. Tudo isto são óptimas razões para encher a principal figura do Governo com nomes, mas depois de pensarmos um bocado, apercebemo-nos de que não é só por causa disso, na maioria das vezes acredito que nem pensam nisso, que as pessoas criticam o Governo: muitas vezes, e na tentativa de fugirem a uma explicação que os coloque no centro do seu próprio fracasso, alguns acusam o Governo, mudando as culpas de direcção e para se sentirem menos fracassados, menos desajeitados, menos incompetentes, menos malandros; outras vezes criticam porque fica bonito, porque os faz parecer intelectuais e bem informados, e nestes casos raramente sabem o que se passa em S. Bento; outras vezes a crítica nasce de uma simbiose entre as razões anteriores. O importante nisto tudo não é acusar as pessoas, como pensam que eu estou agora a fazer, mas sim demonstrar o quão ridículos somos quando criticamos, neste caso concreto, o Governo. Porque, e agora falo com certeza, todos aqueles que criticam desmesuradamente o Governo não saberiam para onde se virar se tivessem a seu cargo tão grande responsabilidade, e quando as críticas partem de pessoas assim, pessoas que desconhecem completamente o assunto, ainda se tornam mais lamentáveis.

Não estou a defender o Governo, aliás, detesto falar disto, não percebo nada, e era isto que as pessoas como eu deviam fazer, não criticar, falar ou julgar alguma coisa à cerca da qual não percebem nada. Mas desde sempre ouvi dizer que "Só fala quem tem que se lhe diga".
Para terminar, não estou a acusar todos os críticos do Governo, gosto bastante de ouvir aqueles que trazem argumentos plausíveis e instrutivos, agora aqueles que só sabem dizer que o Sócrates é um palhaço porque é e que anda sempre a viajar, desprezo.

E assim vivemos...

Em jeito de revista cor-de-rosa, este post traz um brinde: uma mudança de visual do blog. Espero que desta maneira vos seja menos doloroso olhar para ele : )

15 de junho de 2007

Tertúlia Cor-de-Rosa

Tenho tido algum tempo da parte da manhã e quando não faço outras coisas vejo televisão. Hoje passei pelo Programa da Fátima, na SIC, no preciso momento em que Cláudio Ramos, Maya, Daniel Nascimento e outra sujeita davam corpo a uma rubrica intitulada "Tertúlia Cor-de-Rosa" que tem como principal objectivo trazer até aos telespectadores as notícias mais "importantes" da imprensa cor-de-rosa. Pela descrição que fiz não se vê nenhum mal em toda aquela, se me permitem, palhaçada, no entanto tenho a dizer ainda mais qualquer coisa.
Primeiro: os "tertulianos", como são chamados os intervenientes na rubrica, criticam duramente determinadas figuras de acordo com um critério um pouco suspeito: se não gostam de fulano transmitem ao público a pior e mais horrenda imagem dele. Tendo em conta que a rubrica em questão é, para todos os efeitos, informativa, devia, acima de tudo, prezar pela imparcialidade.
Segundo: é feito um acompanhamento escrupulosamente completo da vida das figuras que passeiam pelo quotidiano social português. Nestes acompanhamentos incluem-se previsões (acho que nesse aspecto a Maya influenciou os colegas), possíveis justificações de determinados acontecimentos, onde os "tertulianos" procuram explicar porque é que determinadas individualidades agem daquele modo, enfim, uma quantidade abusiva de conversa sem conteúdo.
Terceiro, e em jeito de conclusão, aquilo não é nada mais nada menos que uma "brincadeira de amigos", bastante útil para quem faz e para quem conhece aqueles que fazem. Quem faz é promovido e quem conhece aqueles que fazem pode sempre ser defendido, caso o seu nome saia à praça.


Embora seja degradante, parece que muita gente gosta: "Conversas de Quintal" é a rubrica do "Você na TV" que apenas não digo que foi passada a papel químico da "Tertúlia Cor-de-Rosa" porque não tem gente famosa a discutir os “rosados factos”.

E assim vivemos...

13 de junho de 2007

Coisa

Excerto retirado de "Os Irmãos Karamázov" de Fiódor Dostoiévski

" «Que solidão?» pergunto eu. «A solidão que agora reina por todo o lado, especialmente no nosso século, e ainda vem longe o fim dela. Porque cada um, hoje em dia, deseja isolar cada vez mais a sua pessoa, quer experimentar em si mesmo a plenitude da vida e, no entanto, acabam num suicídio absoluto, porque em vez da plenitude da definição da sua personalidade entra num isolamento total. Porque todos, no nosso século, se separam, cada qual se isolando na sua toca, cada qual se afastando do outro, escondendo-se e escondendo o que possui, acabando por rejeitar os outros e ser rejeitado pelos outros. Acumula a sua riqueza em solidão e pensa: que forte eu sou, que rico... e mal sabe, o louco, que quanto mais acumula mais mergulha na impotência suicida. Porque está habituado a contar apenas consigo e, como unidade, se separou do comum, habituou a sua alma a não acreditar na ajuda dos outros, nas pessoas e na humanidade e apenas receia que o seu dinheiro e os seus direitos adquiridos se percam. Hoje, por todo o lado, a mente humana irónica começa a perder consciência de que o verdadeiro sustento do indivíduo não consiste no seu esforço pessoal e solitário, mas num esforço em comunidade humana (...)"

21 de abril de 2007

Incoerência

Olá. Com certeza já ouviram mais do que uma vez a expressão "Sinto saudades tuas". Quando alguém a utiliza está a atestar que sente Saudade e que essa Saudade, declarada por esse personagem, está-lhe intrinsecamente ligada, dependendo completamente dele. O que quis dizer é que a Saudade existe enquanto houver alguém para a sentir. Estou certo ou errado? Espero que respondas que estou certo, caso contrário as restantes linhas deste texto não farão sentido nenhum para ti pelo que te aconselho a parares imediatamente de o ler.

Ora, se a Saudade só existe enquanto houver alguém para a sentir, e tendo em conta que todos os seres dotados da capacidade de sentir Saudades são mortais, nunca será possível afirmar que a Saudade é eterna, uma vez que quem a pode sentir não o é. Então alguém que me explique porque raio é que continuam as floristas a colocar a frase "Saudade eterna de filhos e netos" nos ramos de flores, quando a Saudade é tão mortal como o Homem? Acredita que não percebo.

Não quero brincar com a morte nem coisa que se pareça, isto foi apenas um reparo. E já agora, o Amor, padecendo da mesma condição que a Saudade, também não é eterno, portanto parem de dizer que vão amar fulano ou sicrano para sempre porque não vão, e se o disserem vão estar a mentir, e mentir a alguém que significa alguma coisa para vocês é muito feio. Sejamos coerentes.

E assim vivemos...

5 de abril de 2007

sem título

Hoje sinto-me básico, mas apetece-me escrever e como já não escrevo há algum tempo, fica aqui uma "actualização" para os poucos que cá vêm regularmente.
Então é assim, eu tinha uma série de coisas para dizer, coisas que davam textos de muitas linhas, mas depois achava sempre que ficava mal, portanto não vou falar de nada disso, vou só dizer algumas coisas, coisas essas que espero que me surjam daqui a pouco porque neste momento não faço a menor ideia do que vou escrever a seguir.

No outro dia falaram da estória do copo meio cheio ou meio vazio, gira por sinal, e falaram do optimismo, do quão bom é ser optimista. Foi algo bom de ser ouvir! Mas eu pensei e achei que o optimismo não é o caminho, é um atalho, algo que não sabemos bem onde vai parar e que às vezes vai ter onde queriamos. Contrariamente, e por isso é que são antónimos, o pessimismo é o caminho, é por ele que chegamos ao sítio, independentemente do sítio ser bom ou mau. Provavelmente não faz sentido nenhum o que eu disse, mas não vou rever, escrevi, está escrito e eu só quero encher o espaço do blog, e escrever meia dúzia de babozeiras com erros ortográficos e gramaticais, se não é isso que tenho andado a fazer ao longo deste tempo todo. Mas o que eu queria dizer era que o pessimismo é uma estrada alcatroada, bem pavimentada, sem buracos ou pedras no caminho, embora esteja sempre sombria e seja ladeada de árvores que se assemelham a monstros. O optimismo é aquela estrada que é muito gira no início, é a estrada que atravessa planícies verdejantes e assim, mas que é incerta, tanto pode levar ao buraco mais medonho do mundo, a desilusão, como pode continuar ao longo da planície e fazer-nos, estupidamente, pensar: "afinal tinham razão, vale a pena ser optimista, acreditei que tudo ia dar certo, e deu!Iupi! É tão bom ser optimista!!". É de facto estúpido este pensamento. Adiante. Como eu dizia, é importante ter os pés assentes na terra, e melhor do que ser pessimista de gema é ser um pessimista moderado, ou um optimopessimista, ou um pessimista ligeiramente optimista, porque já o povo diz que no meio está a virtude e é bem verdade, embora ela goste de ir até ao lado esquerdo e assim, mas isso são coisas que temos de esclarecer com a própria.
Quer dizer, supostamente os globos de ouro deveriam ser uma gala séria, um evento onde se enalteciam os feitos daqueles que se mostraram bons no que faziam em determinadas áreas, algumas nem sei porque lá estão, mas ainda disfarçam. O grande problema são as novas categorias que foram adicionadas: Globo de Ouro para melhor beijo?! Globo de Ouro para melhor vilão?! Globo de Ouro para melhor herói? Que é isto? A princípio pensei que fosse mentira, uma vez que a gala realizou-se no 1º de Abril, mas depois quando vi a seriedade com que as pessoas encaravam a situação fiquei seriamente preocupado. É a completa estupidez, neste impasse para o ano temos o globo de ouro para o actor/actriz mais atraente, para o actor/actriz mais desavergonhado e para o actor/actriz mais popular ou mais amado... Eu não percebo...

Bem, não me apetece escrever mais, só para que conste, não vou rever o que acabei de escrever, vou publica-lo, e só o lerei quando já estiver disponível para todos. Provavelmente apaga-lo-ei porque não deve fazer sentido nenhum e deve ser macabramente fastidioso pelo que estou certo que só os mais fortes, só os mais resistentes é que conseguiram ler estas últimas linhas. Vou-me despedir porque isto não é um artigo comum. E assim vivemos... Boa noite.

17 de fevereiro de 2007

Indicações

Tenho visto ultimamente algumas séries cómicas norte-americanas e descobri nelas algo que me irrita profundamente: todas elas dizem ao telespectador quais são os momentos com piada, ou seja, aparecem gargalhadas em segundo plano no decorrer da série.
E isso irrita-me tresloucadamente.
Irrita-me porque eu não quero saber quando é que o autor achou que aquilo tinha piada, eu quero é rir-me e não me sentir estúpido quando as gargalhadas surgem e eu não percebo porquê. Irrita-me também porque o facto de surgirem gargalhadas serve de dissimulação para a fraca piada que surgiu, ou seja, o espectador está à espera do momento em que as gargalhadas surgem, de modo a rir-se e a não parecer estúpido, que não presta atenção à péssima qualidade humorística do programa.
No entanto, nem só de irritação se faz este texto, também nele vai surgir a preocupação.

Sim, estou preocupado porque, como as televisões portuguesas são peritas em optimizar o uso das técnicas que possuem, muitas vezes torpemente, qualquer dia vamos estar a ver o telejornal e a meio surgirão sons de entusiasmo, quando se falar do Mickael Carreira, sons de preocupação, quando se falar na senhora que perdeu 10 galinhas, e sons de choro quando se falar no estado da nação. Penso que de hoje a esse dia, falta muito pouco tempo.

E desta maneira a televisão caminha a passos largos para dias cada vez mais gloriosos!

E assim vivemos...

26 de janeiro de 2007

Um Parêntesis

António Lobo Antunes defende que os mais infelizes são os invejosos porque vêem aqueles que invejam a triunfarem e a serem bem sucedidos.
Discordo. Os mais infelizes são, por razões óbvias, os perfeccionistas.

21 de janeiro de 2007

Nozes e dentes

Não sei se o leitor já ouviu o provérbio "Deus dá nozes a quem não tem dentes". Eu já o tinha ouvido várias vezes e hoje ouvi-o outra vez. Nada de anormal, o problema é que hoje reflecti sobre ele e cheguei à conclusão de que está completamente mal construído, que parece muito bom e aplicável uma miríade de situações, mas não. É um provérbio falacioso. Pensemos então:
1. ninguém parte uma noz com os dentes, quanto muito, esmaga-a com o pé e depois retira-lhe o miolo;
2. mesmo sem dentes e sem querer sujar as solas, posso ter um quebra-nozes, continuando a usufruir das propriedades da noz.
Como vemos, é um provérbio que metaforicamente diz muita coisa, mas a metáfora é um pouco fraquinha. Portanto aviso já a sabedoria popular para deixar de se meter em tudo. Pode saber de cozinha tradicional e de algumas coisas da vida, mas de literatura não sabe, e exemplo disto é a pobreza metafórica deste provérbio. Proponho então que se diga "Deus dá coisas a quem não as sabe usar" ou mesmo "Deus dá canudos a quem não sabe nada", sei lá, escolha você mesmo…


Assim vivemos... em 2007?

Passou por aqqui