15 de dezembro de 2007

Merecia ser Rasurado nº 2

Cada vez menos sei se vejo verdade ou encenação,
A ida ao teatro já não custa bilhete!

Caminham pelo palco,
Ostensivos, perfumados,
Muitas vezes sem o que comer,
Outras vezes de barriga vazia. É esta a gente que temos.

Ninguém cuida da realidade,
Ela que sempre cuida de nós,
Pois mais tarde ou mais cedo,
Quer o queiramos ou não,
Lá está ela a denunciar a nossa casta e atirar os adereços ao chão.

Ninguém atenta no que é,
Só no que parece que é.

Toda a gente em correria em busca do mesmo:
Posição. Seja ela verdadeira ou falsa,
Que interessa que seja de areia?
O que os outros vêm, isso sim,
Nem que seja por um dia,
Um instante, um segundo,
Quero que me admirem em todo o meu esplendor,
E que interesso eu? Nada,
Só o que meu esplendor, o lanho que tenho na cara
E os trajes que a custo levo.

Não quero ouvir mais nada,
Para quê? Não quero saber,
Quero parecer, para isso respiro,
Para isso trabalho e a mais não olho,
Só à minha condição.

Quando só, quando sem ninguém me vejo,
Posso finalmente deixar de brilhar,
Tiro os trajes e não sou eu,
Sou outro, caído, tísico e lazarento,
Feio e nojento.
E depois? Nada existe se eles nunca o virem,
Só existe aquilo que eles tocam com os olhos,
Tudo o resto é falso, não interessa.

Assim se vive a vida, dando-lhes o que querem,
Nunca nos dando o que queremos,
Ou melhor, dando-nos aquilo que eles querem que queiramos.

Somos feios para sempre, repugnantes em cada acção,
Se por eles deixamos de ser
O que temos no coração.

2 comentários:

Anónimo disse...

Kumu xempre fenomenal

isabel mendes ferreira disse...

Ninguém atenta no que é,
Só no que parece que é.




assertivo.




abraço.