22 de dezembro de 2007

sem título

Nesta época de festas abundam as saudações e os desejos de bom natal e próspero ano novo. É algo que se repete há imenso tempo e que no fundo não quer dizer rigorosamente nada.
Com o advento das mensagens por telemóvel o "bom natal" tão naturalmente dito no final de uma conversa ou a um funcionário de uma loja, ganhou novas e mais abrangentes dimensões, difundindo-se electromagneticamente pelo espaço permitindo que cada vez mais pessoas pensassem que do outro lado há alguém que ainda se lembra delas. Para essas pessoas dirijo-me agora com algo que elas provavelmente já sabem: a maioria das mensagens que recebes são iguais a muitas outras, letra por letra, só a recebeste não porque o emissor se lembrou de ti mas porque estavas, afortunadamente, na sua lista telefónica, a qual ele seleccionou massivamente para destinatário da dita mensagem.
Tudo que acontece nesta época não é exclusivo dela, como aliás nada é exclusivo em lado nenhum, contrariamente ao que se diz. Ora, sabendo que esta falta de intenção nas mensagens de natal abundam por esse ano fora, penso que a melhor atitude que se pode tomar relativamente às expressões de amizade e cumplicidade dos outros é a indiferença. Ninguém diz nada com intenção, ninguém diz o que realmente sente. O que fazem é pegarem em falas cliché e atirarem-nas ao ar em momentos oportunos, ficando eles bem vistos pela sua sensibilidade e bonomia e livrando-se de um momento embaraçoso em que viram as costas e mandam os outros à merda, porque é isso que realmente sentem. Desta forma, com abraços e beijinhos, com os irritantes "gosto de ti" e os "adoro-te" se constroem relações aparentemente fortes mas que têm alicerces na areia, relações de um vácuo sentimental alarmante.
É curioso como as palavras perdem o sentido, como são modeladas artificialmente pela mente calculista de pessoas que, para atingirem propósitos egoístas, atiram, quais guloseimas de baixa qualidade, sentimentalismos para o ar.

Vergonha em vós!

3 comentários:

Anónimo disse...

"As amizades são como casas, começam-se pelas bases, por alicerces fortes. Não podem ser instantêneas"


Aproveito a deixa que alguém, um dia, me disse...
A verdade é que está tudo, irremediavelmente, banalizado.

Um beijinho Miguel.

José Pires F. disse...

História Antiga

Era uma vez, lá na Judeia, um rei.
Feio bicho, de resto:
Uma cara de burro sem cabresto
E duas grandes tranças.
A gente olhava, reparava e via
Que naquela figura não havia
Olhos de quem gosta de crianças.

E, na verdade, assim acontecia.
Porque um dia,
O malvado,
Só por ter o poder de quem é rei
Por não ter coração,
Sem mais nem menos,
Mandou matar quantos eram pequenos
Nas cidades e aldeias da nação.

Mas, por acaso ou milagre, aconteceu
Que, num burrinho pela areia fora,
Fugiu
Daquelas mãos de sangue um pequenito
Que o vivo sol da vida acarinhou;
E bastou
Esse palmo de sonho
Para encher este mundo de alegria;
Para crescer, ser Deus;
E meter no inferno o tal das tranças,
Só porque ele não gostava de crianças.

Miguel Torga


Um Excelente Natal para ti e toda a família.

isabel mendes ferreira disse...

Eu tenho.



Juro.




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posso deixar um abracinho?


discreto?


deixei...:)