25 de fevereiro de 2008

Merecia ser Rasurado nº 3

P’ra Ti Mundomem.


O som que é mudo para ti,

É dor de morte em espaço meu,

É lanho aberto à força do bisturi

impiedoso do destino.

Sou corpo descarnado As partes por aí,

Em lividez exangue de albino.


A mudez que vês neste som,

Tamanha! – d’Este a’Oeste se via,

É, sem saberes, a protecção

que te torna sol de alegria.

Assim és forte como um verão

Que, distraído em euforia,

Esquece o cinzento – a próxima estação.


E passa o tempo, o som não!

Oiço-o furtivo, vigilante,

Com cuidado de ladrão

que busca numa dormente estante

Consolo triste p’ra contínua rejeição.


E assim medra a solidão,

Como erva selvagem a florir,

Como senhora que sem mão

do Homem (que lhe custa a ouvir),

abre caminho pela escuridão

da terra que te está a cobrir.


E Homem vive a besta da Terra,

Homem vive, dono de tudo,

Dono do mar, dono da serra,

Senhor do conhecimento e do estudo.


Mas que senhor é esse, que sapiente animal?

Que dizendo-se racional nem tem sequer vontade?

Digo-vos eu: é o que se sente divinal

quando os únicos haveres da vida são exterior e vaidade;

E que perturbado pelo torpe barulho social

Não consegue ouvir o doloroso som da verdade!


E doloroso sendo, acho

estoicismo que em mim nunca vi;

Que vale a pena ouvir, seja ele baixo,

O som que é mudo para ti.

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