6 de janeiro de 2008

Merecia ser Rasurado nº 3

Caem por perto folhas de uma vida que está morta,

Sinto-as, suaves, silenciosas a cair,

E vejo como as lágrimas da perda caem também.


E é com música que me engano,

Que me esqueço que o mundo escamoteou o meu eu,

Que a vida se lembrou que aquilo não era meu,


Que sou eu então, senão uma fantoche de alguém que nunca me disse que existia?

Que dá e que tira, que mal nos deixa saborear nos está imediatamente a tirar?


Não me queixo de não ter saboreado.


Queixo-me da farsa em que me tornei por perder,

Perder-me e ficar só, sem nada, sem mim.


Queixo-me de ficar só com cacos,

Cacos que supostamente tenho que juntar,

Para fazer um novo eu,

Para construir outro que substitua o que fui.


Não sei, não posso e não quero.

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