Não. Nem me imagino a reclamar, que aliás, é o que toda a gente sabe fazer. E a culpa é sempre deles. Incrível.
Não me vou pôr com mensagens optimistas, que neste momento são um pontinho insignificante num pano bem negro. Enfim. Qual é o problema? Muitos. O primeiro e principal é haver muita coisa. Coisa a mais nunca fez bem a ninguém. Podem chamar-me antiquado que aceito com todo o gosto e com uma ponta de orgulho. Hoje não passa um dia em que não surja algo novo, algo que requer toda uma nova contextualização, novo estudo, sei lá, o mundo parece girar rápido de mais. E nem pára para dormir. E assim, com velocidades estonteantes, o homem, partícula de pó, tem que se adaptar. Há quem diga que o mundo existe porque nós existimos e não o contrário. Então, o mundo está como está porque o fizemos assim, porque, em primeiro lugar, quem mudou fomos nós. E o que mudamos? Bem... Generalizando, tornamo-nos mais animais. Mais competitivos, mais irracionais, irreflectidos, mais irresponsáveis. Tornamos o valor das coisas uma questão de moda. As coisas são boas hoje e amanhã são porcaria. Fazemos coisas sem pensar nas consequências, procuramos fugir a responsabilidades e atiramos a culpa, covardemente, para os outros, como se nós, na nossa incompetente e infantil existência, não fizéssemos nada mais do que ver o mundo a acontecer. Solução? Desenterrarmos o que está enterrado: os princípios, os valores e, sobretudo, a boa-educação. É verdade, isto é uma cambada de mal-educados, arrogantes e "narizes empinados". Por enquanto ainda há para onde fugir... mas por pouco tempo.
20 de janeiro de 2008
sem título
14 de janeiro de 2008
Anotação XVI - O Óbvio
Muito há para dizer sobre o óbvio, e obviamente a primeira coisa que nos surge é o facto de ser algo terrivelmente ignorado. "Por ser óbvio vou omitir, toda a gente já sabe". Esta é uma ideia corrente que penso estar errada. O facto de ser óbvio faz-nos insistir pouco na ideia ou na solução ou o que quer se seja que o é. Desta maneira acabamos por perder o óbvio quando, por ser óbvio, nunca devia ser perdido, já que o que é óbvio é básico, e como o próprio nome indica, não se deve perder (o que seria dos copos sem base).
Provavelmente o que é óbvio decorre de processos mentais tão enraizados na nossa natureza humana que conduzem inexoravelmente e em todos os casos, ou seja, em todas as pessoas, às mesmas conclusões. Contudo, sendo o homem todo diferente na sua unidade, o óbvio de uns é pouco óbvio para outros, portanto o óbvio varia, logo o óbvio nem sempre é óbvio o que o torna pouco óbvio e sendo ele pouco óbvio deve ser referido vezes sem conta para que ninguém o esqueça.
Comecei por dizer que muito há para dizer sobre o óbvio e acabo a dizer o mesmo. Embora pareça, o óbvio não é supérfluo. E tudo isto porque a Anotação XVI é estupidamente óbvia:
Na vida, a única regularidade é a irregularidade.
9 de janeiro de 2008
6 de janeiro de 2008
Merecia ser Rasurado nº 3
Caem por perto folhas de uma vida que está morta,
Sinto-as, suaves, silenciosas a cair,
E vejo como as lágrimas da perda caem também.
E é com música que me engano,
Que me esqueço que o mundo escamoteou o meu eu,
Que a vida se lembrou que aquilo não era meu,
Que sou eu então, senão uma fantoche de alguém que nunca me disse que existia?
Que dá e que tira, que mal nos deixa saborear nos está imediatamente a tirar?
Não me queixo de não ter saboreado.
Queixo-me da farsa em que me tornei por perder,
Perder-me e ficar só, sem nada, sem mim.
Queixo-me de ficar só com cacos,
Cacos que supostamente tenho que juntar,
Para fazer um novo eu,
Para construir outro que substitua o que fui.
Não sei, não posso e não quero.