21 de dezembro de 2008

Anotação XXI

Só experimentos, experiências!
Que somos mais para além de experiências
de nós próprios em nós próprios à procura
da nossa identidade própria?

24 de novembro de 2008

Anotação XX

No dia em que o forcado tiver os cornos da vida enfiados no abdómen, ele que não pense que morreu, pois até então não houve nenhuma altura em que estivesse tão vivo.

1 de março de 2008

Anotação XIX

Nada é valioso se não for único.

27 de fevereiro de 2008

Anotação XVIII

A energia gasta na busca de felicidade devia ser utilizada para o conforto na infelicidade.

São duas buscas sem fim, mas a última não traz esperanças impertinentes...

25 de fevereiro de 2008

Merecia ser Rasurado nº 3

P’ra Ti Mundomem.


O som que é mudo para ti,

É dor de morte em espaço meu,

É lanho aberto à força do bisturi

impiedoso do destino.

Sou corpo descarnado As partes por aí,

Em lividez exangue de albino.


A mudez que vês neste som,

Tamanha! – d’Este a’Oeste se via,

É, sem saberes, a protecção

que te torna sol de alegria.

Assim és forte como um verão

Que, distraído em euforia,

Esquece o cinzento – a próxima estação.


E passa o tempo, o som não!

Oiço-o furtivo, vigilante,

Com cuidado de ladrão

que busca numa dormente estante

Consolo triste p’ra contínua rejeição.


E assim medra a solidão,

Como erva selvagem a florir,

Como senhora que sem mão

do Homem (que lhe custa a ouvir),

abre caminho pela escuridão

da terra que te está a cobrir.


E Homem vive a besta da Terra,

Homem vive, dono de tudo,

Dono do mar, dono da serra,

Senhor do conhecimento e do estudo.


Mas que senhor é esse, que sapiente animal?

Que dizendo-se racional nem tem sequer vontade?

Digo-vos eu: é o que se sente divinal

quando os únicos haveres da vida são exterior e vaidade;

E que perturbado pelo torpe barulho social

Não consegue ouvir o doloroso som da verdade!


E doloroso sendo, acho

estoicismo que em mim nunca vi;

Que vale a pena ouvir, seja ele baixo,

O som que é mudo para ti.

24 de fevereiro de 2008

palavras

"Achava absurdo e infame fazer a corte à prima... Mas involuntariamente pensava no delicioso prazer de fazer bater aquele coração que não estava deformado pelo espartilho, e de pôr enfim os seus lábios numa face onde não houvesse pós de arroz... E o que o tentava sobretudo era pensar que poderia percorrer toda a província de Portugal, sem encontrar nem aquela linha de corpo, nem aquela virgindade tocante de alma adormecida... Era uma ocasião que não voltava."

Eça de Queirós, "No Moinho" in Contos

20 de fevereiro de 2008

Competitividade

Compreendo a competitividade humana, percebo a sua importância: sem ela a espécie não seria o que é hoje. Contudo, não descortino a razão pela qual, à semelhança de muitos traços dessa animalidade primária de outras eras mais selvagens, a competitividade cega e irracional não foi deixada de lado. É curioso que, hoje em dia, em que o Homem vive em casas que tocam o céu, construiu asas mais rápidas do que qualquer ave, faz cálculos astronómicos em milionésimos de segundo, continue a ceder a essa sua herança animal tão congénita como a própria necessidade de procriar.
A competitividade, na sua vertente irracional, torna as pessoas ridículas, isto porque a competitividade actual limita-se à cópia ampliada da conquista do vizinho: a preocupação em evoluir, em utilizar o desejo de superar o parceiro para crescer não existe. Existe sim uma enorme exibição de peças, sejam elas físicas ou não, na qual o mais evoluído, o mais proeminente é o que tiver a maior, ou pelo menos, o que assim o aparentar. Mais: a competitividade do Homem que se diz civilizado não fica por aqui; somada à fixação no tamanho, há ainda a necessidade premente de espezinhar, logo que possível, o concorrente mais directo, de eliminar potenciais rivais, de tornar a tarefa tão fácil que se possa, por algum tempo, estagnar a "evolução".

16 de fevereiro de 2008

Anotação XVII

A alegria é um hábito.

15 de fevereiro de 2008

Mulheres

É tocante a influência dos passos de uma mulher: tanta leveza, tanta pureza, tanta calma que emana de passos, à primeira vista, tão comuns como outros quaisquer. Gosto de olha-las, sem desejo, sem pensar sequer, só deleitar as retinas na infinita graça que emanam, na beleza profunda que transportam. Como as amo! O homem não tem que amar o concreto, tem que amar o geral, amar a Mulher, toda ela de luz, de paz; toda ela capaz de matar o mais poderoso tormento com o beijo do olhar manso, com a coberta do abraço terno... Mulher é sinónimo de poder, de beleza, de graça, de tudo!
É o sentido não carnal da mulher que me faz ama-la, a eterna aura de serenidade, de mansidão; a dor de não poder ser imenso para a abraçar em toda a extensão!

José Maria Guerreiro

20 de janeiro de 2008

sem título

Não. Nem me imagino a reclamar, que aliás, é o que toda a gente sabe fazer. E a culpa é sempre deles. Incrível.
Não me vou pôr com mensagens optimistas, que neste momento são um pontinho insignificante num pano bem negro. Enfim. Qual é o problema? Muitos. O primeiro e principal é haver muita coisa. Coisa a mais nunca fez bem a ninguém. Podem chamar-me antiquado que aceito com todo o gosto e com uma ponta de orgulho. Hoje não passa um dia em que não surja algo novo, algo que requer toda uma nova contextualização, novo estudo, sei lá, o mundo parece girar rápido de mais. E nem pára para dormir. E assim, com velocidades estonteantes, o homem, partícula de pó, tem que se adaptar. Há quem diga que o mundo existe porque nós existimos e não o contrário. Então, o mundo está como está porque o fizemos assim, porque, em primeiro lugar, quem mudou fomos nós. E o que mudamos? Bem... Generalizando, tornamo-nos mais animais. Mais competitivos, mais irracionais, irreflectidos, mais irresponsáveis. Tornamos o valor das coisas uma questão de moda. As coisas são boas hoje e amanhã são porcaria. Fazemos coisas sem pensar nas consequências, procuramos fugir a responsabilidades e atiramos a culpa, covardemente, para os outros, como se nós, na nossa incompetente e infantil existência, não fizéssemos nada mais do que ver o mundo a acontecer. Solução? Desenterrarmos o que está enterrado: os princípios, os valores e, sobretudo, a boa-educação. É verdade, isto é uma cambada de mal-educados, arrogantes e "narizes empinados". Por enquanto ainda há para onde fugir... mas por pouco tempo.

14 de janeiro de 2008

Anotação XVI - O Óbvio

Muito há para dizer sobre o óbvio, e obviamente a primeira coisa que nos surge é o facto de ser algo terrivelmente ignorado. "Por ser óbvio vou omitir, toda a gente já sabe". Esta é uma ideia corrente que penso estar errada. O facto de ser óbvio faz-nos insistir pouco na ideia ou na solução ou o que quer se seja que o é. Desta maneira acabamos por perder o óbvio quando, por ser óbvio, nunca devia ser perdido, já que o que é óbvio é básico, e como o próprio nome indica, não se deve perder (o que seria dos copos sem base).
Provavelmente o que é óbvio decorre de processos mentais tão enraizados na nossa natureza humana que conduzem inexoravelmente e em todos os casos, ou seja, em todas as pessoas, às mesmas conclusões. Contudo, sendo o homem todo diferente na sua unidade, o óbvio de uns é pouco óbvio para outros, portanto o óbvio varia, logo o óbvio nem sempre é óbvio o que o torna pouco óbvio e sendo ele pouco óbvio deve ser referido vezes sem conta para que ninguém o esqueça.
Comecei por dizer que muito há para dizer sobre o óbvio e acabo a dizer o mesmo. Embora pareça, o óbvio não é supérfluo. E tudo isto porque a Anotação XVI é estupidamente óbvia:

Na vida, a única regularidade é a irregularidade.

9 de janeiro de 2008

anotação XV

O amor é um dia de sorte.

6 de janeiro de 2008

Merecia ser Rasurado nº 3

Caem por perto folhas de uma vida que está morta,

Sinto-as, suaves, silenciosas a cair,

E vejo como as lágrimas da perda caem também.


E é com música que me engano,

Que me esqueço que o mundo escamoteou o meu eu,

Que a vida se lembrou que aquilo não era meu,


Que sou eu então, senão uma fantoche de alguém que nunca me disse que existia?

Que dá e que tira, que mal nos deixa saborear nos está imediatamente a tirar?


Não me queixo de não ter saboreado.


Queixo-me da farsa em que me tornei por perder,

Perder-me e ficar só, sem nada, sem mim.


Queixo-me de ficar só com cacos,

Cacos que supostamente tenho que juntar,

Para fazer um novo eu,

Para construir outro que substitua o que fui.


Não sei, não posso e não quero.

5 de janeiro de 2008

Anotação XIV

Um elogio nunca deve vir sozinho e deve ser dito uma vez apenas.