Acho sincera piada a todo o mediatismo que agora envolve os Simpsons, a sério que sim. A mim, que sou fã, já me enjoa. Foi no decorrer desta divulgação em grande escala que me surgiu uma estória, que passo a contar entre bocejos e "esfregadelas" de olhos, porque a hora não é nada própria (2:12). Vou, cobardemente, culpar essa mesma hora por qualquer erro, incoerência ou estupidez no texto que se segue.
Desde que ouviu falar pela primeira vez dos Simpsons, Carlos ficou interessadíssimo. Viu. As expectativas foram superadas, achou imensa piada à família amarela que fazia com que os americanos gostassem de se rir de si mesmos. A partir desse dia, ainda os desenhos eram primitivos, procurou nunca perder um episódio, sedento de novas razão para rir e para pensar. Ora um dia começa toda esta promoção exaustiva do filme. Reportagens para a frente, entrevistas para trás, merchandising para os lados... De um momento para o outro toda a gente é fã dos Simpsons sem nunca ter visto o rabo gordo e amarelo do Homer. Um dia, Carlos ficou a saber que a sua escola iria participar numa reportagem em que se procurava demonstrar o impacto que a Família de Springfield tem nos jovens. Carlos ficou entusiasmado, inteirou-se imediatamente de tudo: como ia funcionar, o que se tinha que fazer para participar. O trabalho do aluno eleito era simplesmente responder a perguntas feitas por um jornalista depois de ter exposto em linhas concisas mas claras, a razão pela qual gostava dos Simpsons. Carlos, como é óbvio, participou e ficou apurado para a final, a qual consistia num teste geral sobre os Simpsons. O teste pareceu-lhe bastante elementar, no entanto, havia duas perguntas completamente fora do contexto: eram sobre os títulos em BD dos Simpsons. Ele já tinha ouvido falar, mas como era medíocre em inglês e não conhecia edições em português, Carlos nunca tinha lido nada disso. Por isso, deixou essas duas por fazer, não querendo estragar a sua óptima pontuação, com duas respostas dadas à sorte. Do outro lado da sala, estava Mário, o sujeito mais popular da escola que, desde que os Simpsons se tornaram moda, vestia "à simpson": sempre com uma t-shirt do Homer a apregoar ao consumo de cerveja e a uma vida em frente da “interessantemente escravizante” televisão. Nunca tinha prestado atenção à quando o tempo de antena era de Springfield, nem tampouco se interessava por animação, a questão é que ele queria aparecer na televisão e para isso estudou como nunca para este teste, estudo que, devido a uma mãe preocupada e cheia de papel que o fez aprender inglês, incluiu a leitura das BD's dos Simpsons. Mário vai representar a escola, Carlos fica a ver a sua oportunidade de demonstrar o seu amor pelos Simpsons a ser roubada por alguém que só deseja protagonismo e que só quer demonstrar o grande amor que tem à sua própria popularidade.
Embora rebuscada e altamente duvidosa, esta estória tenta na sua humilde riducularidade ser uma metáfora para o que acontece hoje em dia com os famosos, as causas humanitárias e as pessoas que realmente se dedicam e fazem alguma coisa pelos mais desfavorecidos. De facto, eu estou farto de ouvir falar em Mários, de os ver em capas de revistas e na televisão a falarem do quão importante é ajudarmos os mais pobres, estou farto da publicidade frenética e memorizada que eles fazem; estou farto de ver as pessoas que trabalham pelos outros serem relegadas enquanto as que dão a cara pela causa são louvadas e admiradas; estou farto de ver que se esquecem daqueles que realmente defendem a causa, que lutam por ela com o pouco que têm; estou farto dos famosos humanitários que tão depressa abraçam uma causa como a atiram para o caixote das coisas que os ajudaram a aumentar a sua popularidade. É triste, é revoltante. É um ultraje!
São 2:39. O sono continua a apertar-me a cabeça pelo que acredito que as coisas ali em cima (o texto) não estejam como eu gostava, mas tinha de ser agora senão, a preguiça que o sol emana misturada com o calor faria com que eu me esquecesse e nunca mais escrevesse aqui.
E assim vivemos...