13 de junho de 2007

Coisa

Excerto retirado de "Os Irmãos Karamázov" de Fiódor Dostoiévski

" «Que solidão?» pergunto eu. «A solidão que agora reina por todo o lado, especialmente no nosso século, e ainda vem longe o fim dela. Porque cada um, hoje em dia, deseja isolar cada vez mais a sua pessoa, quer experimentar em si mesmo a plenitude da vida e, no entanto, acabam num suicídio absoluto, porque em vez da plenitude da definição da sua personalidade entra num isolamento total. Porque todos, no nosso século, se separam, cada qual se isolando na sua toca, cada qual se afastando do outro, escondendo-se e escondendo o que possui, acabando por rejeitar os outros e ser rejeitado pelos outros. Acumula a sua riqueza em solidão e pensa: que forte eu sou, que rico... e mal sabe, o louco, que quanto mais acumula mais mergulha na impotência suicida. Porque está habituado a contar apenas consigo e, como unidade, se separou do comum, habituou a sua alma a não acreditar na ajuda dos outros, nas pessoas e na humanidade e apenas receia que o seu dinheiro e os seus direitos adquiridos se percam. Hoje, por todo o lado, a mente humana irónica começa a perder consciência de que o verdadeiro sustento do indivíduo não consiste no seu esforço pessoal e solitário, mas num esforço em comunidade humana (...)"

2 comentários:

Anónimo disse...

Grande lição, hein?
Espero que tenhas sido TU o principal beneficiado da leitura deste texto...

Tu e a "tua" Solidão!
Gostava que pensasses seriamente no que tu próprio escreveste... e compara com o que contumas dizer, nas conversas que temos sobre nós/sociedade!

***
Beijo, Teresa

Anónimo disse...

Bem, esta definição tão profunda, detalhada e inflamada de uma forma de vida adequa-se quase perfeitamente a uma pessoa que eu conheço...eheh...

Contudo, julgo que este excerto tem muito de auto-biográfico, dado o percurso de vida deste autor. A solidão que retrata tão intensamente, associada a vida que teve, nomeadamente a perda dos pais ainda na juventude e todos os atritos políticos que desencadearam na sua vida um conjunto de peripécias perniciosas, levaram-no a achar-se sozinho no mundo, pensando que sozinho teria de enfrentar todos os reptos e dificuldades da vida.
Imagino mesmo que este livro, apesar de nunca o ter lido, mas estar ansiosa por, deve ter fortes componentes auto-biográficas, e no fundo a constatação e reflexão do que foi a sua vida, projectada nas diferentes personagens, sobretudo pela a altura em que o concluiu (aproximadamente três anos antes de falecer).

Em jeito de conclusão, acho que de facto pelo excerto que aqui nos exposeste, nota-se que Dostoiévski é um autor que escreve com uma clareza eminente que conduz a uma estética fantástica!

Agora, mesmo para concluir, devo dizer que pela volumosa obra que este autor contruiu e por todos os promenores que me contaste ( :) ), é-lhe inegável a genialidade, genialidade esta que, pelo que vejo (e que também não e muito), não lhe é devidamente reconhecida. Porém acredito que a genialidade e a felicidade não são necessariamente dissociáveis.
É por isso que acho que podes continuar a desenvolver-te mentalmente, sem teres de levar uma vida tão infeliz e isolada como a que ele levou.

Lembra-te que, no fundo, das coisas mais importantes da vida, para qualquer pessoa, é a felecidade, e por isso mesmo devemos procurá-la enquanto temos tempo para isso...

beijito...;)
__________________
desculpa a extensão e alguma coisa que não gostes, a sério!!